Postado por Dra. Paula Vieira
A decisão sobre a quantidade de embriões a serem transferidos é um dos momentos mais importantes da fertilização in vitro (FIV). Ela influencia diretamente tanto nas chances de sucesso do tratamento quanto nos riscos da gestação. Por isso, é essencial que essa escolha seja baseada em evidências científicas, em normas da legislação vigente e, principalmente, no cuidado individualizado.
A Dra. Paula Vieira, especialista em medicina reprodutiva, atua com protocolos personalizados que prezam pela segurança e pelo bem-estar da paciente, e explica tudo nesse post. Boa leitura!
Na FIV, os embriões são formados em laboratório e, após alguns dias de cultivo, transferidos para o útero da mulher. Essa etapa é chamada de transferência embrionária e pode ocorrer com embriões no terceiro dia de desenvolvimento (D3) ou no quinto dia (D5), quando atingem o estágio de blastocisto. A decisão sobre quantos embriões transferir depende de vários fatores, que serão explicados a seguir.
A regulação sobre o número máximo de embriões a serem transferidos em ciclos de FIV no Brasil está disposta na Resolução CFM nº 2.320/2022 (atualização da Resolução CFM nº 1.957/2010). Segundo o artigo 7º dessa resolução, aplica-se o seguinte critério:
Mulheres com até 37 anos: até 2 embriões por transferência;
Mulheres com mais de 37 anos: até 3 embriões por transferência;
Em caso de embriões euplóides (diagnóstico genético pré-implantacional sem alterações cromossômicas): até 2 embriões, independentemente da idade da receptora;
Na ovorecepção, considera-se a idade da doadora no momento da coleta dos oócitos para definir os limites acima.
Esses limites têm o objetivo de equilibrar a busca por taxas de gravidez satisfatórias com a segurança materno-fetal, reduzindo de forma significativa os riscos associados a gestações múltiplas, como prematuridade e complicações hipertensivas. Além disso, a resolução reforça a proibição de redução embrionária em casos de gestação múltipla decorrente de reprodução assistida.
Qualquer prática que ultrapasse os parâmetros da Resolução CFM 2.320/2022 está sujeita a sanções éticas junto ao Conselho Regional de Medicina.
A transferência de múltiplos embriões aumenta significativamente o risco de gestações múltiplas, como gêmeos ou trigêmeos, o que eleva as chances de:
Parto prematuro
Baixo peso ao nascer
Complicações obstétricas (hipertensão, diabetes gestacional)
Internação em UTI neonatal
Por isso, a medicina reprodutiva moderna preconiza uma abordagem mais conservadora e segura, principalmente quando se tem embriões de alta qualidade.
Embora a tendência atual seja minimizar o número de embriões transferidos para reduzir risco de gestações múltiplas, há situações em que a transferência de dois ou mais embriões se faz necessária e justificada tecnicamente. A decisão é sempre individualizada, ponderando-se cuidadosamente riscos, histórico reprodutivo e qualidade embrionária.
Em mulheres com idade materna avançada, a taxa de aneuploidias embrionárias ultrapassa 70% após os 40 anos, o que reduz a probabilidade de implantação por embrião e motiva a transferência de mais de um para otimizar chances de sucesso.
Pacientes com falhas repetidas de implantação (três ou mais transferências sem gravidez clínica) devem ser avaliadas quanto a fatores embrionários (aneuploidias, mosaicismo) e endometriais (alterações anatômicas ou de receptividade). Quando não há embriões euplóides disponíveis após PGT-A, recomenda-se considerar transferência conjunta de dois embriões de qualidade razoável, desde que a receptividade endometrial esteja otimizada.
Em situações de embriões de qualidade inferior a acumulação de dois embriões “menos bons” pode elevar a chance de que pelo menos um implante, especialmente em pacientes com reserva ovariana reduzida.
Casos com baixa taxa de divisão embrionária (ritmo de clivagem lento ou acelerado) ou fragmentação acentuada podem se beneficiar da transferência conjunta para compensar menor viabilidade individual e maximizar a probabilidade de sucesso em um único procedimento. Entretanto, essa estratégia deve ser reservada a pacientes com número limitado de embriões para evitar desperdício e reduzir stress físico e emocional de múltiplos ciclos.
Em todos os cenários, antes de optar pela transferência múltipla, realizam-se:
avaliação minuciosa da qualidade embrionária (morfologia e, se disponível, PGT-A),
estudo da cavidade uterina por histeroscopia ou imagem,
monitorização hormonal e endometrial,
parecer psicológico.
A transferência única de embrião, preferencialmente em estágio de blastocisto, consolidou-se como padrão-ouro em centros de excelência, assegurando segurança materno-fetal e excelentes índices de gravidez por transferência.
Escolher apenas um blastocisto de alta qualidade reduz drasticamente o risco de gestações múltiplas, que implicam maior incidência de prematuridade, hipertensão gestacional e cesáreas. Além disso, pacientes com carga embrionária excedente podem congelar blastocistos viáveis para ciclos subsequentes, mantendo elevada chance cumulativa de gravidez sem submeter-se a novos procedimentos de estimulação e punção.
Do ponto de vista da previsibilidade, um embrião euplóide em blastocisto apresenta taxa de implantação que varia entre 50–60%, enquanto a transferência de múltiplos embriões de estágio clivagem (D3) raramente supera 45% de gravidez clínica, com risco elevado de gêmeos e trigêmeos.
Para aplicação da eSET, o endométrio deve apresentar espessura ≥ 7 mm, evidente padrão trilaminar na ultrassonografia e responsividade hormonal ideal. Pacientes jovens (< 35 anos), sem histórico de falhas e com pelo menos dois blastocistos de qualidade excelente são candidatas ideais, pois a sobrevida embrionária em cultura prolongada e a seleção natural in vitro garantem maior sucesso ao escolher apenas um.
Em síntese, a eSET alia:
Redução de riscos - quase elimina gestações múltiplas;
Preservação de embriões - congelação para tentativas futuras;
Taxas preditivas - blastocistos de alta qualidade oferecem maior confiabilidade de implantação por unidade transferida.
Essa estratégia, recomendada pelas principais sociedades internacionais (ESHRE, ASRM), é hoje a rota preferencial para quem busca segurança, eficiência e alta taxa de natalidade única e saudável.
A qualidade do embrião é, sem dúvida, o fator mais determinante para o sucesso de um ciclo de FIV. A seleção criteriosa, baseada em parâmetros morfológicos e, quando possível, genéticos, permite identificar aqueles com maior potencial de implantação e desenvolvimento, reduzindo a necessidade de transferências múltiplas e, consequentemente, os riscos de gestações gemelares.
Desde o terceiro dia (D3), os embriologistas analisam número de células e fragmentação citoplasmática, pois níveis elevados de fragmentação (> 20 %) estão associados a queda significativa da implantação e menor formação de blastocisto . Porém, é no quinto dia (D5), estágio de blastocisto, que se aplica o teste final de “sobrevivência in vitro”: somente embriões capazes de formar uma cavidade blastocística estável e diferenciar trofectoderme e massa celular interna seguem adiante.
A morfologia do blastocisto é graduada em dois eixos:
Expansão (graus 1–6), que mede desde o blastocisto jovem até a eclosão completa da zona pelúcida;
Qualidade da massa celular interna (A–C) e do trofectoderme (A–C), refletindo o agrupamento e coesão celular.
Blastocistos 4 AA ou 4 AB, por exemplo, exibem expansão adequada e ICM/TE de excelência, traduzindo-se em taxas de implantação que podem ultrapassar 50 % por embrião transferido .
Manter os pré-embriões em cultivo até o quinto dia oferece duas grandes vantagens:
Seleção natural: embriões com aneuploidias ou mosaicismo frequentemente não evoluem ao blastocisto, poupando transferências infrutíferas e reduzindo custos emocionais e financeiros;
Maior previsibilidade: estudos mostram que blastocistos selecionados apresentam chance de implantação significativamente superior à de embriões em clivagem (D3), mesmo quando transferidos isoladamente .
Além da morfologia, técnicas não invasivas e genéticas vêm sendo incorporadas para refinar ainda mais o julgamento:
Time-lapse (embrioscópio), que analisa o ritmo de clivagem e detecta anomalias de divisão celular;
Metabolômica e consumo de O₂, indicadores do estado metabólico embrionário;
PGT-A (teste genético pré-implantacional para aneuploidias), que garante implantação de embriões cromossomicamente normais e reduz perdas por abortamento precoce .
Quando um único blastocisto de alta qualidade é transferido - estratégia conhecida como eSET - alcançam-se altas taxas de nascidos vivos, minimizando riscos de prematuridade, restrição de crescimento e complicações maternas inerentes à gemelaridade. A excelência nesse processo decorre diretamente da robustez dos critérios morfológicos, do domínio tecnológico do laboratório e da expertise da equipe multidisciplinar.
Investir em seleção embrionária rigorosa, apoiada em morfologia e, sempre que possível, em diagnóstico genético, é a melhor forma de traduzir o potencial biológico do embrião em uma gestação única e bem-sucedida.
Na clínica da Dra. Paula Vieira, a decisão sobre a quantidade de embriões é sempre tomada em conjunto com o casal, de forma transparente, segura e respeitosa. Cada caso é único, e cada escolha é baseada em uma análise minuciosa de histórico, idade, exames e expectativas do paciente.
Transferir mais embriões nem sempre aumenta as chances de gravidez. Pelo contrário, pode elevar riscos desnecessários. A escolha ideal é aquela que equilibra eficácia e segurança, sempre com base na ciência e na empatia.
Agende sua avaliação com a Dra. Paula Vieira e receba um plano de tratamento sob medida para realizar seu sonho com responsabilidade e segurança.
IMPORTANTE: Somente médicos devidamente habilitados podem diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar remédios. Agende uma consulta para maiores informações.
DRA. PAULA VIEIRA
Dra. Paula Vieira é uma ginecologista especialista em fertilidade que valoriza confiança e informação. Sua abordagem leve e acolhedora transforma consultas em ambientes agradáveis.
CRM 129376-SP - RQE 69318
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