Blog

ABR25
Preservação da Fertilidade Transgênero  0

Preservação da Fertilidade Transgênero

Postado por Dra. Paula Vieira

Preservação da Fertilidade Transgênero

Planejando o Futuro: Opções de Preservação da Fertilidade para Pessoas Transgênero

Falar sobre fertilidade é, acima de tudo, falar sobre possibilidades. E quando falamos sobre pessoas transgênero, esse diálogo precisa ser ainda mais cuidadoso, respeitoso e centrado na escuta e no acolhimento. A preservação da fertilidade para pessoas trans é uma área em constante evolução dentro da medicina reprodutiva e tem um papel fundamental na construção de futuros possíveis, especialmente para quem deseja, em algum momento, ter filhos biológicos.

Ao longo deste texto, vamos conversar sobre as principais opções de preservação da fertilidade disponíveis para homens e mulheres trans, os momentos mais adequados para realizar esses procedimentos, os impactos das terapias hormonais e cirurgias de afirmação de gênero sobre a função reprodutiva, e o papel de um acompanhamento especializado, seguro e acolhedor. Este é um espaço onde ciência e empatia caminham juntas.

Preservar a fertilidade é um direito reprodutivo

A preservação da fertilidade deve ser entendida como um direito de todas as pessoas — inclusive e especialmente da população transgênero, que historicamente enfrentou inúmeras barreiras no acesso a cuidados de saúde reprodutiva. Felizmente, esse cenário está mudando, com avanços médicos e, principalmente, com uma mudança de mentalidade que valoriza a autonomia e o desejo de cada indivíduo sobre seu próprio corpo e suas escolhas reprodutivas.

Para muitas pessoas trans, o desejo de ter filhos biológicos está presente antes, durante ou depois das transições hormonais ou cirúrgicas. A boa notícia é que, com o planejamento adequado e o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, existem caminhos viáveis para que esse desejo se realize.

Como os tratamentos hormonais afetam a fertilidade?

Antes de falarmos sobre as opções de preservação, é importante entender como os tratamentos hormonais interferem na fertilidade.

Pessoas trans que optam por iniciar a hormonização geralmente recebem terapias hormonais de longa duração, como testosterona (para homens trans) ou estrogênio e antiandrogênicos (para mulheres trans). Essas terapias têm impacto direto sobre a função dos ovários e dos testículos, podendo levar à diminuição significativa ou até à suspensão da produção de gametas (óvulos ou espermatozoides).

Embora em alguns casos esses efeitos sejam reversíveis com a interrupção do tratamento hormonal, isso não é garantido. Por isso, é fundamental que o planejamento da preservação da fertilidade seja feito antes do início da terapia hormonal — ou, quando isso não for possível, que a pessoa tenha acesso a uma avaliação individualizada sobre suas possibilidades atuais.

Preservação da fertilidade para homens trans

Homens trans — pessoas designadas do sexo feminino ao nascimento e que se identificam com o gênero masculino — geralmente iniciam o uso de testosterona como parte da transição. Essa medicação pode reduzir a ovulação e causar atrofia dos ovários ao longo do tempo.

A principal opção de preservação da fertilidade antes do uso de testosterona é o congelamento de óvulos. Esse processo envolve a estimulação dos ovários com hormônios (durante um período de cerca de 10 a 14 dias), a coleta dos óvulos em um procedimento ambulatorial e o congelamento dos gametas para uso futuro. É um procedimento seguro e já bastante consolidado na medicina reprodutiva.

Para homens trans que já estão em uso de testosterona, ainda é possível interromper temporariamente o tratamento para avaliar a possibilidade de coleta de óvulos. Embora a pausa possa causar desconforto físico e emocional, ela pode ser uma etapa necessária para quem deseja preservar a fertilidade com seus próprios gametas.

Outra opção, quando há o desejo de gestar, é a preservação do útero antes de cirurgias de redesignação sexual, como a histerectomia. Homens trans que mantêm útero e ovários podem, inclusive, optar por realizar uma gestação futura com o uso de técnicas de reprodução assistida, caso isso esteja alinhado com seus desejos pessoais e identidade de gênero.

Preservação da fertilidade para mulheres trans

Mulheres trans — pessoas designadas do sexo masculino ao nascimento e que se identificam com o gênero feminino — normalmente fazem uso de estrogênio e bloqueadores de testosterona, o que reduz drasticamente a produção de espermatozoides ao longo do tempo. Em casos de uso prolongado, pode ocorrer uma atrofia testicular, tornando a produção de espermatozoides inexistente ou insuficiente.

Por isso, a principal recomendação para mulheres trans que desejam preservar a fertilidade é realizar o congelamento de sêmen antes do início da hormonização. A coleta é feita de forma simples e não invasiva em um laboratório de andrologia, com análise e processamento do material para o congelamento em nitrogênio líquido.

Para mulheres trans que já iniciaram o tratamento hormonal, pode haver uma chance — ainda que pequena — de recuperação da espermatogênese com a suspensão da terapia por um período determinado. No entanto, essa recuperação não é garantida e depende de diversos fatores, como a idade da paciente, o tempo de uso dos hormônios e a presença de alterações testiculares.

Quando a coleta de sêmen não é possível, existe ainda a possibilidade de coleta direta de espermatozoides dos testículos por meio de técnicas cirúrgicas, como a TESE (extração testicular de espermatozoides), embora essa abordagem tenha limitações e dependa da viabilidade biológica de produção espermática.

O papel da reprodução assistida no processo de parentalidade trans

A reprodução assistida desempenha um papel fundamental no planejamento familiar de pessoas trans. Com os gametas previamente congelados (óvulos ou espermatozoides), é possível recorrer a técnicas como a fertilização in vitro (FIV) ou a inseminação intrauterina (IIU) para realizar o sonho de ter filhos biológicos.

No caso de casais trans ou pessoas trans em relacionamentos heteroafetivos, homoafetivos ou com parceiros cisgênero, a escolha da técnica vai depender do tipo de gameta disponível, da presença ou ausência de útero, da saúde geral da pessoa e do desejo em relação à gestação.

É possível ainda recorrer a barrigas solidárias (útero de substituição) e a doação de gametas em situações específicas — tudo isso sempre embasado por um acompanhamento médico, psicológico e jurídico especializado.

A boa notícia é que as tecnologias reprodutivas estão cada vez mais acessíveis e eficazes, permitindo que a parentalidade seja uma realidade possível e concreta para pessoas trans que desejam construir suas famílias.

Planejamento reprodutivo trans: acolhimento, escuta e informação

Cuidar da fertilidade de pessoas trans vai muito além dos aspectos técnicos e biológicos. Trata-se de oferecer um ambiente seguro, onde cada paciente se sinta respeitado em sua identidade, acolhido em suas inseguranças e bem informado sobre todas as suas possibilidades.

Sabemos que muitas vezes esse assunto vem carregado de dúvidas, receios e, infelizmente, experiências negativas no sistema de saúde. Por isso, o acompanhamento por uma equipe capacitada em reprodução humana com olhar inclusivo e atualizado é essencial.

Cada corpo é único. Cada jornada é diferente. O importante é que todas as decisões sejam tomadas com base na informação correta, com liberdade, autonomia e, principalmente, sem pressões. A fertilidade pode — e deve — fazer parte da conversa sobre transição de gênero, sempre que houver esse desejo.

Quando é o melhor momento para preservar a fertilidade?

O momento ideal para iniciar o processo de preservação da fertilidade é antes do início da terapia hormonal ou de procedimentos cirúrgicos que afetam a função reprodutiva. Mas mesmo que esse passo não tenha sido possível no início da transição, ainda há alternativas que podem ser exploradas com uma avaliação médica individualizada.

Por isso, o mais importante é não adiar essa conversa. Planejar a fertilidade não significa, necessariamente, querer ter filhos agora — significa manter essa possibilidade viva para o futuro. E isso faz toda a diferença.

Dra. Paula Vieira: cuidado especializado e humanizado para todas as identidades

Aqui na minha clínica, acolher pessoas trans com respeito, escuta ativa e zero julgamento faz parte do nosso compromisso diário. A reprodução humana é uma área que lida com sonhos, com desejos e com o futuro. E ninguém deve ser deixado de fora dessa possibilidade.

Se você é uma pessoa trans e está pensando sobre fertilidade, transição, preservação de gametas ou parentalidade, saiba que você não está sozinho nessa jornada. Agende uma consulta com a Dra. Paula Vieira, médica especialista em reprodução humana. Será um prazer conversar com você, entender sua história e traçar, juntos, um caminho seguro e respeitoso rumo ao seu futuro reprodutivo.

IMPORTANTE: Somente médicos devidamente habilitados podem diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar remédios. Agende uma consulta para maiores informações.

Artigos

botão Voltar Voltar



Nenhum Comentário foi enviado ainda.

Seja o primeiro a comentar!

Deixe um Comentário

Seu endereço de e-mail não será divulgado. Campos de preenchimento obrigatório marcados com asterisco.

Whatsapp Ginecologista e Obstetra - Dra. Paula  Vieira